20/12/11

PRÓXIMOS DO NATAL

Reflexão apresentada pelo 7.º ano de catequese.

09/07/11

A CATEQUESE COMO MEIO DE CONHECER UMA COMUNIDADE

Introdução

O presente trabalho tem como finalidade dar uma resposta ao desafio que surgiu da Unidade Curricular de Metodologias de Investigação em Pastoral lançado pelo Dr Luís Figueiredo, no sentido de fazer uma proposta metodológica a partir das técnicas da recolha de dados da pesquisa qualitativa do modelo do Método do Discernimento proposto por Sérgio Lanza. Para isso, contamos com a observação e o diálogo feito com os catequizandos do Centro de Catequese Interparoquial do Alto Mouro. Desde o seu início no ano 2005 até ao presente, fomos vendo e registando a evolução dos catequizandos neste processo de aprendizagem. Podemos chegar a várias interpretações da vivência da fé das comunidades envolvidas neste projecto e ter uma leitura mais próxima da realidade das famílias e comunidades, no tocante a questões pastorais e a forma como vivem e manifestam a sua religiosidade (fé), através dos catequizandos envolvidos.
Queremos com este trabalho, apresentar uma visão real e algumas mudanças que podemos operar depois do conhecimento que nos foi proporcionado pelos indivíduos envolvidos.
Contamos para isso com a colaboração dos catequistas, de um modo particular da Catequista Márcia Afonso que nos falou da sua experiência pessoal neste trabalho.
Dada a evidência das “transformações sócio-eclesiais, é necessária uma reflexão sobre o tecido paroquial multissecular”. A paróquia de tipo geográfico, hoje em dia, é insustentável, não respondendo, portanto, às necessidades que são evidentes em alguns meios das nossas dioceses.
A mobilidade acelerada dos membros das comunidades, a redução do número de párocos, a anexação de paróquias, a despovoação dos meios rurais, o recrudescimento, o surgimento de novos e diferentes espaços de convívio e sociabilização, a alfabetização em larga escala que proporcionou o acesso à informação global e diversificada, a outras formas de pensar e viver, novas terras, culturas, religiões e as diversas liberdades (imprensa, religiosa, política, expressão…), são alguns fenómenos sociais irreversíveis que põe em jogo a mudança do sistema paroquial. A geografia deixou de ser o critério fundamental para a delimitação da paróquia.
Causas e importância do VAT II, um ponto fundamental na reforma. Urgente mudança de paradigma: voltar às origens, da pastoral de manutenção à pastoral evangelizadora e missionária – a igreja perde fiéis é preciso ir à procura deles… Uma provável solução são as “unidades pastorais”, mesmo sabendo que não será a “cura” para este problema. Contudo, será um caminho a fazer, optando por um trabalho em equipa. Certamente, sem pôr em causa as comunidades primárias e respeitando a sua hierarquia, num ambiente real de co-responsabilidade.

A catequese como método de conhecimento e projecção pastoral
A catequese é um pequeno mundo que deixa transparece o ambiente comunitário e familiar. No contacto semanal com os catequizandos conseguem-se observar e analisar evoluções que de outra forma seria difícil. Podemos, portanto, dizer que a catequese é um pequeno grande espelho de uma comunidade formada por famílias com pensamentos e, porque não dizê-lo, costumes diferentes que se reflectem a posteriori na comunidade à qual pertencem.
Assistíamos há alguns anos a uma catequese fechada em si mesma, que não se abria à comunidade, que com ela não interagia, que recitava fórmulas e doutrinas ininteligíveis: uma catequese condenada ao fracasso, uma catequese anti-relação, na qual nem participa a família nem a comunidade, nem os próprios catequistas, envolvidos que estavam num emaranhado de rotinas, sem espírito, sem trabalho, desprovidas de reflexão, no fundo, sem luz. O resultado manifestou-se em famílias, e consequentemente, comunidades fechadas, sem espaço para diálogo, mal formadas e cujo interesse era satisfazer interesses, pequenos costumes e rotinas, a vontade do avô ou da avó, alimentar uma fé desfasada da autêntica Fé em Jesus Cristo que se alimenta do Evangelho e da vivência – não consumo – sacramental como graça e sinal da participação de Deus na vida de cada um. A base dessas insolvências era a estatística, o número daqueles que entravam e saíam da catequese, mas sem quaisquer fundamentos. Interessava, sobretudo, o número dos que faziam a profissão de fé com êxito. A comunidade e as famílias pensavam assim. Sabia-se disso pela forma de abordagem dos catequizandos, pela pressa, pelo desinteresse.
Este foi o modo de pensar e agir durante algum tempo e via-se claramente nos pais e na comunidade esta mentalidade. Os catequizandos confirmavam-no pela sua postura, conversa, desânimo e num ânimo simultâneo de partir por outros caminhos para eles mais abertos. Uma catequese de verão, aliada ao profundo desconhecimento de Deus. Daqui se parte para o destino de muitas famílias e comunidades pequenas resistentes à ideia de mudança, de abertura a outras comunidades: incompreensão, barreiras intransponíveis, pouco diálogo, convivência inexistente, falta de sentido, isolamento…
Perante tal cenário depreendeu-se que a alternativa, o futuro, passava pela interparoquialidade que é, sem dúvida, um caminho aberto a grandes possibilidades, Neste contexto, muitas mudanças foram necessárias operar, sobretudo na transformação de mentalidades, no aniquilamento de bairrismos, na projecção de novas formas de viver a e na comunidade. Tempo. Foi necessário tempo e paciência, sentido de comunhão, humildade, escuta, sensatez, acreditar que pelo Espírito Santo se conseguem coisas extraordinárias. Era preciso actuar nos pontos essenciais e críticos, arriscando numa mudança com sentido de aposta na reflexão, no respeito pelo trabalho dos outros, no acolhimento e no diálogo, mais-valias para apresentar Cristo.
Para ultrapassar questões complexas e polémicas à partida, foi necessário pensar sempre sobre a melhor forma de o fazer. Apesar de muitas renitências, o primeiro passo foi dado. Inicialmente, foi-se sentindo, no diálogo com os catequizandos, que os pais se sentiam um pouco deslocados, por terem de sair dos seus espaços, da sua comunidade, pensando que assim estariam a perder a identidade. O mesmo tocava as comunidades, que achavam estar a perder as crianças. O afastamento destes sentimentos exigiu por parte de todos um esforço de integração e de adaptação, sem que tal anulasse a identidade de cada local. Estava fora de questão voltar atrás no tempo, no Evangelho que apela ao sentido de comunhão, de comunidade, de união, de relação. Aos poucos, evidentemente – nenhuma mudança se opera do dia para a noite – as pessoas foram-se sentindo acolhidas e parte integrante de um novo projecto de comunidade. Hoje consegue-se ver o resultado de tanto trabalho, no fundo de evangelização. Nesta procura de renovação das comunidades, a catequese mostra como as famílias se modificam. A exigência que os começa a rodear. A mudança é paulatina, mas acontece. Os filhos trazem os pais. Eles mesmos o dizem e, fazendo parte integrante e activa da catequese por meio das diversas dinâmicas que se foram e vão criando, mostram o modo de viver de toda a comunidade, denotam as transformações de mentalidades que essa mesma comunidade vai sofrendo, que se reflectem na forma como vivem a sua religiosidade, a sua fé… Como vivem e como dela dão testemunho. Apostou-se na organização, na convivência, no diálogo, algo a não descurar. A catequese envolve muito a comunidade cristã e isso é verificável pela acção dos catequizandos no anúncio do Evangelho que é, sem dúvida, o principal objectivo. Para o atingir, o testemunho é sempre o melhor aliado. Todos se convergem para um mesmo objectivo. E pela catequese se mostra que tal é possível. Pelo testemunho dos próprios filhos, os pais e a comunidade sentem-se acolhidos. E com aqueles que ainda não acontece, o trabalho continua: é preciso discernimento, acolhimento, diálogo.
Não quer isto dizer que tudo está feito. Novas mudanças podem aparecer, novos objectivos a levar a efeito. Mas em tudo é preciso reflectir, organizar, discernir o que melhor faz sentido, à luz daquele que nos move, Jesus Cristo. Não poderá haver lugar para egoísmos, antes para comunidades abertas que, estando juntas, não perdem a identidade própria, o seu modus operandi, porque se sabem integradas numa num projecto maior, o de Deus.


Discernimento em Sergio Lanza

Sergio Lanza apresenta-nos uma teologia do discernimento sendo o seu método teológico. Vê a realidade à luz do Espírito Santo, que acolhe, exercitando-se na leitura dos sinais do tempo. É um método de acção e compreensão, não é de teor técnico, mas activo e responsável, inspirado pelo espírito que procura renovar as comunidades.
O discernimento tem como referência a eclesiologia de comunhão, ou seja, é um trabalho que a comunidade exerce em conjunto, um trabalho comunitário e não cada um isoladamente. Sendo um método teológico exige a conversão como transformação interior e implica uma “maturidade sapiencial”, isto é, dar uma orientação à vida baseada na humildade, na paciência e na sensatez.
O acto de discernimento exige competências, na medida em que deve ser um acto inteligente, saber separar e optar e tomar uma decisão. Deve testemunhar a caridade, formando comunidades abertas e acolher todos os seres humanos.
O discernimento é o centro do método e o sujeito é toda a comunidade cristã, activa e participativa. Este método dedica sempre um tempo à verificação dos dados e dos resultados, sendo este um momento indispensável. Daqui vai resultar o projecto para a comunidade. Um projecto de co-responsabilidade e comunhão, onde estão presentes o perdão, o diálogo e a escuta. Este projecto vai ajudar a comunidade, e a Igreja em geral, a crescer e a se reedificar num tempo e num espaço. Portanto, é um projecto dinâmico e aberto, mas também sujeito à verificação.
A catequese, no trabalho realizado, é, pela proposta que apresentamos, o local mais genuíno para este discernimento. É importante porque desta forma conseguimos ter uma leitura mais realista da realidade e a forma como projectar a acção pastoral.

Raul de Oliveira Fernandes

25/05/11

ACTIVIDADE ARCIPRESTAL


Olá pessoal,

No próximo dia 28 de Maio, aqueles que vão participar nesta actividade não se esqueçam de:
- estar junto à igreja às 8:30h para sair;
- farnel para partilhar ao almoço;
- boa disposição para todo o dia e voz bem afinada :)!

Até lá...

27/04/11

DIA DA MÃE

Olá pessoal!

Como bem sabeis, no dia 01 de Maio, a Catequese do Alto Mouro percorrerá as 6 paróquias para comemorar o dia da mãe. Pois bem, toca a preparar-se para o desafio que começa logo pela manhã, em Parada, às 8:30h. O almoço será, como habitualmente, em Cousso.
Não faltes!
:)

14/04/11

VISITA AOS DOENTES

Olá Alto Mouro!

Não esquecer que, no próximo domingo, é a visita aos doentes. Por isso, a catequese começa mais cedo! Vejam as vossas agendas!
Continuação de boa semana:)
Até domingo.

26/01/11

METODOLOGIAS NA TEOLOGIA PRÁTICA

José da Silva Lima – Teologia Prática Fundamental, Fazei Vós, Também. Universidade Católica Editora, Lisboa, 2009
Capítulo VII, Metodologias na Teologia Prática – pp. 275 a 308.

Na teologia as técnicas de investigação têm de estar adequadas às finalidades pretendidas. Contudo, com o avançar do tempo e o desenvolvimento da sociedade é necessário reflectir sobre a metodologia usada.
Há um diálogo e uma convivência entre a Teologia e as várias Ciências Sociais Humanas, que foram aperfeiçoando os seus métodos ao longo do tempo. A Teologia Pastoral aparece como parceira e mediadora do diálogo entre as Ciências Sociais e a Teologia. A Teologia Pastoral dá o seu parecer positivo, aprende e ajuda ao desenvolvimento dos saberes.
Aqui, vamos apresentar uma reflexão sobre os métodos em Teologia Pastoral e várias técnicas de investigação apropriadas à construção da Igreja.

1. Da Dedução à Indução. Um novo ponto de partida
A Teologia Pastoral, através do método dedutivo, fez um percurso para introduzir nas práticas concretas a razão teológica das fórmulas dogmáticas. Neste sentido, a Teologia Prática seria uma conclusão de todos os saberes, tanto bíblicos, como de práticas eclesiais e a “arte de bem-fazer” os rituais da Igreja. Assim foi até ao Concílio Vaticano II. Deste modo, a Teologia Prática estava submetida ao método dedutivo. Segundo Laurent Gagnebin, os pastores aproveitavam as investigações feitas por outros e noutros lugares, resultantes de investigações feitas e não expunham novos saberes. Os professores de Teologia Prática limitavam-se a transmitir os seus conhecimentos, dando exemplos da sua experiência. Daí que esta fosse uma disciplina secundária. Por ser um método de elaboração de doutrinas com certos princípios e propostas de aplicação na acção, M. Midali deu-lhe o nome de “método aplicativo”.

Doutrina → a aplicar na → praxis pastoral

Apesar de ser teórico, este procedimento mantém uma relação profissional com a prática. Foi usado, e deu fruto na época anterior ao 25 de Abril de 1974, e também pelo Concílio Vaticano I para aprofundar a dimensão pastoral da Teologia.
O método dedutivo impõe alguns limites na Pastoral, questionando se serão apenas algumas conclusões ou se é mesmo Teologia. Por ser um método aplicativo é subordinado. Portanto, e nos tempos que correm, dada a heterogeneidade e pluralidade social e religiosa, não se pode entregar o ensino da Pastoral a docentes sem formação teológica. Deste modo, este método é inadequado.

1.1 A transição
Desde o Concílio Vaticano II que o procedimento dedutivo tem sido posto em causa. Influenciado pelas Ciências Sociais e Humanas a nova proposta metodológica foi encontrada do outro lado dos saberes teológicos sistematicamente elaborados. Construi-se um novo ponto de partida: as práticas sociais em meios heterogéneos. Partiu das experiências concretas para o fazer, ou seja, o método indutivo “da prática aos saberes”. A prática da fé foi o ponto de partida.

O Autor desta transição foi G. Casalis que defendia a prática como factor epistemológico decisivo. Esta viragem traz consigo aspectos empíricos e técnicas próprias das Ciências Sociais que se cruzam com a Teologia. Inicialmente, este método indutivo, Teologia Pastoral, foi uma grande aposta e era feito de maneira inversa ao dedutivo.

Dados empíricos → a aplicar nas → práticas pastorais

O método indutivo também foi muito aplicativo. Contudo, trouxe à Teologia Prática a consciência da incarnação dos saberes na realidade sócio-eclesial das comunidades. Assim surgiram novos ambientes eclesiais nos pós 25 de Abril.

Contudo, este método indutivo tem um limite de aplicabilidade. As ciências Sociais fornecem à pastoral os dados técnicos, mas estes fogem da realidade teológica. Deste modo, “os operadores do evangelho” sentem-se hesitantes. O método indutivo sem participação no diagnóstico pode conduzir a conclusões erradas; e desse diagnóstico não faz parte a fé, dado mais importante.

Para evitar diagnósticos incorrectos, a Teologia deve fazer parte desse diagnóstico como “instrumento de análise crítica”.

2. O Método da correlação

Marc Donzé, professor de Teologia Prática, apresenta um novo método em cinco etapas. A primeira é a da percepção das “práticas problemáticas” e suas questões; a segunda é a análise crítica das questões; a terceira é a correlação; a quarta é a do projecto, para agir melhor nas pastorais, e a última é a da verificação, se o projecto é ou não viável. Este método põe a teologia no próprio processo de avaliação.

Outro autor, L. Gagnebin, fala-nos em linearidade dos métodos, quer dedutivo quer o indutivo, sendo estes opostos simetricamente.

Partindo da bíblia ou das práticas, o processo é o mesmo e o esquema é triangular, como explica M. Midali. É um esquema de três e onde há sempre uma relação entre os elementos: a Teologia, a Prática e as Normas. Segundo L. Gagnebin, o Espírito seria o vértice da pirâmide, havendo entre os elementos uma verdadeira correlação Teológica. Assim, o teólogo usa da sua inteligência e do saber fazer para reconstruir um discurso fundado na Palavra. Deste modo, a Teologia Prática vai interpretar a realidade de uma forma crítica, tendo sempre presente Deus.

M. Midali faz um esquema da junção do método dedutivo com o indutivo:

Doutrina → a aplicar às práticas pastorais ← Dados empíricos

Segundo o autor, este método é relevante pelo facto de conjugar três dados importantes da Teologia Prática, tendo como principal objectivo a acção pastoral. Para tal, há uma conjugação dos “princípios da Doutrina da Igreja”, como situações importantes, favorecendo as “normas práticas”.
Porém, a prática demonstrou a insatisfação deste método conjugativo, uma vez que não se podem conciliar dados empíricos com princípios da revelação. Deste modo, este não é adequado à Teologia Prática.

2.1. Ver, julgar, agir
O método mais usado nos últimos decénios, e também presente na Gaudium et Spes, está dividido em três momentos: ver, julgar e agir. Foi proposto por um movimento de Acção Católica, “Revisão de Vida”. Este surgiu na descoberta do sentido cristão da vida pela Juventude Operária Católica, fundada em 1925 pelo padre Belga Cardijn. Esta revisão consistia em rever a vida no trabalho, na família e dar um juízo evangélico às descobertas e desenvolvia-se em torno de três verdades essenciais: a experiência, a fé e o método. Tinha como ponto de partida o facto da vida, e como referência iluminadora o Evangelho. O objecto era a mudança e conversão.

O Concílio Vaticano II afirmou que os leigos deveriam aprender a ver, julgar e agir à luz da fé. Aplicado à acção eclesial, este método seria explicado da seguinte forma:

 - “Observação pastoral” (ver) – de uma forma crítica e sem deturpar a realidade, é um momento activo e, por isso, ligado à acção pastoral. Deve apurar a realidade na sua profundidade (valores, normas, onde, quando, porquê…);

- “Interpretação pastoral” (julgar) – a compreensão da realidade faz-se através do Evangelho e das experiências comunitárias, para tal é preciso perceber a lógica da Revelação à luz da fé;

- “Acção pastoral” (agir) – este ponto indica os caminhos a percorrer na edificação da Igreja, ou seja, traduzir na acção a realidade do mundo, para assim agir melhor, sob a luz da fé.

Práticas vigentes → Teoria → Práticas reorientadas
Ver/julgar →[quadro doutrinal] → Agir

Este método baseado na revisão de vida possibilita uma maior atenção às realidades e uma constante interpretação da Tradição da Igreja e um espírito inventivo. Segundo a hermenêutica da situação, só há uma leitura autêntica da realidade se houver uma interpretação antropológica, teológica e cosmológica; só há um apuramento dos dados através da relação que existe entre o homem, Deus e o mundo. A hermenêutica da Tradição é um trabalho aprofundado de coerência e de coesão. A hermenêutica proporcional faz surgir o futuro da “Igreja”, incentivando a concretização do Reino de Deus.

2.2. Caminho empírico - crítico
Miller e Poling apresentam um novo caminho empírico crítico em seis etapas.
O primeiro passo é a descrição da experiência vivida, ou seja, de conversa com o contexto para perceber a realidade da comunidade.
O segundo passo trata de não criar absolutos a partir da experiência, mas de ser vigilante em relação aos discursos fenomenológicos. Uma vez que conserva a distância dos discursos experienciais, a Teologia Prática é uma Teologia crítica.
O terceiro passo define a correlação que existe entre cultura e tradição cristã, através do recurso à analogia, procurando saber as experiências da comunidade cristã.
O quarto passo trata de interpretar o sentido e o valor dos dados anteriores e aprofunda o que é crucial para os homens de hoje. “É no valor e no sentido que a Boa Nova de Deus se cruza e autentifica a experiência vivida pelas comunidades”.
O quinto passo é da hermenêutica da própria comunidade. Aqui detecta-se a maturidade das próprias pessoas da comunidade.
O sexto passo trata de desenvolver orientações e planos para a comunidade particular, dando-lhe novas oportunidades de experiências.
Este método tem uma base empírica e hermenêutica. A Teologia Prática não sobrevive sem Teologia e sem Ciências Humanas, funcionando como plataforma de cruzamento de saberes e interpreta os “rumores de Deus” nos tempos em que se constrói a Igreja.


3.    Método de teor projectivo e de discernimento
Vendo-se confrontado com os limites dos métodos anteriores, M. Midali apresenta um novo método, o método projectivo, onde articula os elementos dos métodos já apresentados.
Divide este novo método em três fases de acção:
1.    Kairológica: onde analisa e avalia as situações;
2.    Projectiva: projecta o que deseja na praxis;
3.    Estratégica: programa a passagem entre as situações dadas e as desejadas.
Estas são fases correlativas, em que o centro é a “projectualidade teológico-prática”.

Fase kairológica ↔ Fase estratégica ↔ Fase projectiva
Prática vigente ↔ Caminho para…  ↔ Metas a longo prazo

As diferentes fases apresentadas pelo autor têm vários momentos. Estes são sapienciais e metodológicos.
A fase kairológica tem como objectivo analisar crítica e criteriologicamente as situações e a praxis eclesiais. Portanto, aqui existem vários momentos: fenomenológico, interpretativo, criteriológico e normativo. Esta fase tem uma visão teológica. A fase kairológica, o autor realça o último momento, o normativo, afirmando tratar-se de um cultivo ao discernimento da realidade à luz da Teologia. Por isso, o objectivo do discernimento é o de revelar valores religiosos, morais e culturais do passado para conservar e colher novos valores e expressões; discernir aspectos e abandonar e manter outros; perceber desafios; esclarecer problemas; criticar e repudiar de acordo com os casos; acolher sinais de esperança e denunciar os de não esperança.
A fase projectiva só se aplica tendo o diagnóstico da primeira fase. Nesta fase identificam-se, descrevem-se e interpretam-se os objectivos a atingir a longo prazo, para obter uma prática renovada nas comunidades. Podemos assistir a momentos: o crítico-hermenêutico, o normativo e o criteriológico. Responde-se, num processo de discernimento teológico, à pergunta: até onde se quer chegar?
A terceira fase é a da estratégia. Esta pretende descobrir os elementos necessários para passar de situações analisadas a situações concretas. Em causa está um conjunto de acções que vão levar as comunidades a práticas concretas, como planos anuais ou plurianuais com programas adequados. Desta fase fazem parte três momentos: o descritivo que define os operadores, as modalidades de acção, os recursos necessários e as rectificações; o normativo e kairológico que fazem a apresentação dos papéis, definem as regras e o tipo de intervenção; e o momento criteriológico que incentiva à prática interdisciplinar.
O autor apresenta este método como:
1.    Empírico – porque respeita as práticas actuais e procura práticas renovadas;
2.    Crítico – porque desenvolve nas várias fases uma interpretação dos dados, das metas e das estratégias;
3.    Teológico – porque é guiado pela luz da fé nas várias situações;
4.    Projectivo – porque pretende projectar práticas renovadas.
Este método traz-nos uma novidade em três pontos: primeiro, propõe uma metodologia teológica de início e fim; segundo, é inovador, dado que reflecte sobre um projecto; terceiro, é uma proposta pneumatológica porque o discernimento, a estratégia e a prática só se atingem com a força do Espírito. Por isso, este método identifica-se como “kairológico-projectivo”.

3.1    Discernimento teológico – pastoral

Na obra Convertire Giona, Sergio Lanza apresenta um novo método, o discernimento teológico-pastoral. Ele afirma que o principal meio para dinamizar a renovação de uma comunidade cristã é a projectualidade e o discernimento. Esta proposta surgiu numa crítica às metodologias já vigentes que eram vistas como “utopias tradicionais”, porque se prendiam demasiadamente ao passado, pretendendo copiá-lo; “utopia futurista”, como se a esperança no futuro estivesse nas contínuas invenções e utopia marxista porque pensavam numa emancipação da sociedade. Eram metodologias insuficientes (dedutivo e indutivo), esqueciam a lei da incarnação e baseavam-se em estatísticas. Sergio Lanza, contudo, quer manter as questões relacionadas com as orientações, os projectos e a programação. Foi no seguimento desta crítica que propôs o método do discernimento teológico-pastoral. Este apresenta três fases:
1-    Análise e avaliação;
2-    Decisão e projecção;
3-    Actuação e verificação.
Estas são componentes construtivas baseadas na Teologia que seguem um percurso kairológico, prático-operativo e criteriológico (como M. Midali).
Sergio Lanza apresenta-nos uma teologia do discernimento, sendo o seu método teológico. Vê a realidade à luz do Espírito Santo, que acolhe, exercitando-se na leitura dos sinais do tempo. É um método de acção e compreensão; não é de teor técnico, mas activo e responsável, inspirado pelo Espírito que procura renovar as comunidades.
O discernimento tem como referência a eclesiologia de comunhão, ou seja, é um trabalho que a comunidade exerce em conjunto, um trabalho comunitário e não cada um isoladamente. Sendo um método teológico exige a conversão como transformação interior e implica uma “maturidade sapiencial”, isto é, dar uma orientação à vida baseada na humildade, na paciência e na sensatez.
O acto de discernimento exige competências, na medida em que deve ser um acto inteligente, saber separar e optar e tomar uma decisão. Deve testemunhar a caridade, formando comunidades abertas e acolher todos os seres humanos.
Lanza resume em cinco etapas o discernimento:
1.    A questão;
2.    A questão rezada;
3.    A questão reflectida;
4.    A questão tornada objectivo;
5.    A questão em via de solução.
Assim sendo, o discernimento é o centro do método e o sujeito é toda a comunidade cristã, activa e participativa. Este método dedica sempre um tempo à verificação dos dados e dos resultados, sendo este um momento indispensável. Daqui vai resultar o projecto para a comunidade. Um projecto de co-responsabilidade e comunhão, onde estão presentes o perdão, o diálogo e a escuta. Este projecto vai ajudar a comunidade, e a Igreja em geral, a crescer e a reedificar-se num tempo e num espaço. Portanto, é um projecto dinâmico e aberto, mas também sujeito à verificação.
Esta proposta é importante dado que projecta a acção pastoral de uma forma teológica. Aplica o discernimento sempre com uma atitude espiritual. É uma proposta sensata e ideal para as comunidades.

4.    Diálogos com as ciências sociais e humanas
É de salientar o diálogo existente entre as Ciências Sociais e Humanas e a Teologia Prática. As Ciências com maior relevo foram: a Pedagogia e a Psicologia – para a catequese e a formação; a Antropologia, Sociologia e História – para responder ao processo de secularização. Estas ciências eram obrigatórias como recurso.
A segunda metade do século XX foi marcada pela passagem por três fases:
Primeira – relação de cautela e desconfiança no que respeita aos saberes e controlo na escolha dos professores e da matéria leccionada.
Segunda – até aos inícios do século XXI; época dos “censos das práticas dominicais” e análise da “religiosidade”; houve uma quebra nos compromissos a longo prazo.
Terceira – é de teor crítico e de proposta de diálogo multidireccional.
Em 1995, Jean Joncheray apresentou “três modelos de relação entre sociologia e teologia”.
No primeiro, modelo de tipo preliminar, os dados apresentados pela sociologia funcionavam como ajuda no diálogo entre pastores e os seus destinatários. No segundo modelo, modelo de teor utilitário, a sociologia fornecia conselhos para a organização, sendo os sociólogos especialistas. No terceiro, modelo de confrontação, o diálogo aparece na frente. É neste ponto que se encontra a Igreja e que se desenvolvem os saberes da Teologia Prática.
No seu diálogo a Teologia inclui o transcendente, algo que a Sociologia deixa em aberto. A Teologia Prática é o palco para apresentar a relação existente entre as Ciências Sociais e o discurso Teológico. As Ciências Sociais têm um papel importante e crítico, dado que obrigam a um diálogo interdisciplinar: a Teologia Prática precisa da descrição das situações, e o diálogo só é possível mediante uma ligação à Teologia e à Tradição. Portanto, o diálogo entre as ciências Humanas e a Teologia acaba por fortalecer os seus saberes.
Tendo um “lugar hermenêutico”, a Teologia Prática desenvolve-se em quatro partes, segundo Browning:
1.    Interpretação da prática;
2.    Diferentes saberes empíricos;
3.    Organização e planificação da intervenção;
4.    Reflexão teológica subjacente ao processo.
Assim sendo, a interdisciplinaridade confere à Teologia Prática um desenvolvimento e uma partilha de sentidos e de saberes.

4.1    Uma equipa
No diálogo interdisciplinar, a Teologia Prática tenta sempre mostrar Deus nas situações concretas. Independentemente dos momentos metodológicos, devem ter-se em conta os seguintes aspectos: a comunidade e as suas práticas, a leitura crítica interdisciplinar e a projecção de situações novas. Estes são os aspectos indispensáveis.
Segundo Ramiro Prat i Pons, é muito importante que a equipa de trabalho para levar a cabo a proposta seja bem formada e consciente do lugar e do serviço que ocupa na Igreja. Portanto, não é uma tarefa de requisição, mas um serviço a prestar.

4.2    Algumas técnicas de recolha
Antes de mais, importa referir que não se deve confundir metodologia com processos e técnicas de recolha de Deus. Dado que estas são de natureza empírica.
Em zonas francófonas, a metodologia mais utilizada é a qualitativa. Esta, orientada por um “observador”, produz e analisa os dados descritivos, detectando e interpretando as práticas, para formalizar a hipótese de um programa ou projecto de transformação.
As técnicas mais usadas neste tipo de metodologias são:
- A biografia: faz referência a itinerários de vida e analisa o meio social. As informações são recolhidas através de entrevistas com o indivíduo e da leitura de documentos pessoais. Permite detectar mudanças e perceber práticas da pastoral da Igreja;
- A técnica etnográfica: centra-se na observação participante, ou seja, o investigador participa activamente na vida e nos rituais das comunidades para os analisar em profundidade. Esta participação activa juntamente com informações dadas por elementos importantes da comunidade constituem bases suficientes e sólidas para avançar com propostas de transformação pastoral.
- A técnica de “estudo de caso”: centra-se no estudo em profundidade de um caso particular. É necessário identificar bem o “caso” a estudar para conseguir responder ao “porquê” e ao “como” dos fenómenos. É um instrumento que permite perceber dinâmicas sociais com as quais a Igreja trabalha.
O recurso a estas técnicas permite um estudo em profundidade das práticas das comunidades. Contudo, para serem aplicadas é exigida preparação e flexibilidade no que respeita ao terreno e às questões a colocar.
As comunidades constroem-se num tempo e num espaço, podem ou não gerar riqueza e as técnicas ajudam ao seu conhecimento.
Raul Oliveira Fernandes

10/01/11

A TEOLOGIA PASTORAL: IDENTIDADE E MÉTODO

Ramiro Pellitero - TEOLOGIA PASTORAL, PANORÁMICA E PRESPECTIVAS, Uma eclesiologia prática ao alcance de todos - Grafite Ediciones, Bilbão 2006 – Cap. II: Unidade da Teologia e Teologia Pastoral, A teologia pastoral: identidade e método, pag. 90-111

 A mensagem de Cristo só passa e só se conhece verdadeiramente quando é vivida. Não bastam os saberes teológicos e eclesiais. Contudo, entre estes dois há uma grande ligação que se manifesta no centro da teologia pastoral.

A “teologia pastoral”, ciência teológica da acção e da edificação da Igreja
A “teologia pastoral” pode ser conhecida como teologia de acção eclesial. Portanto, reflecte teologicamente sobre a acção da Igreja que leva à sua “edificação”. Isto implica fazer uma relação com outras disciplinas e expor o seu método. A denominação “teologia pastoral” realça a ideia de que todos os cristãos formam a Igreja e são responsáveis por esta, tendo como guia os Pastores. Assim sendo, a teologia pastoral, actualmente, é considerada uma “teologia prática”.
 
A teologia pastoral como “teologia prática”
Toda a teologia tem uma dimensão prática ou pastoral. A teologia pastoral é prática porque é teologia e tem em si a prática do amor cristão que se manifesta através da Igreja. Da teologia ainda fazem parte, como disciplinas, a teologia moral e a pastoral, portanto tem um sentido espiritual e, ao mesmo tempo, prático. A associação da “pastoral” à “prática” aproxima a “pastoral” do pragmático ou funcional. Por isso, ainda há dúvidas em relação à sua terminologia, se “teologia pastoral” ou “teologia prática”.
Segundo São Tomás, a teologia é especulativa porque trata mais de Deus do que da acção do homem. Contudo, também é prática porque estuda o homem que, através da sua obra, chega ao conhecimento de Deus.
Por outro lado, as ciências humanas e sociais são importantes quando aplicadas à teologia e ao diálogo entre estas e outras ciências humanas, no sentido em que ajuda a encontrar motivações e finalidades práticas no campo da acção pastoral.
A teologia pastoral permite à teologia prática o reconhecimento de algumas condições, nomeadamente o respeito pelos pastores e catequistas, a necessidade de reflexão para verificar na prática a vivência da fé, a manifestação do Espírito Santo e ajudar a Igreja na sua missão.

Identidade da teologia pastoral
A pastoral está em constante mudança entre os projectos e a missão divina que lhe compete transmitir. Contudo, essa missão é concretizada através da Palavra de Cristo e da acção do Espírito Santo. Esta é a base da teologia pastoral e da Igreja, que assenta na Santíssima Trindade, como primeiro grande passo para a fé. Assim, o fundamento primeiro da acção da Igreja e dos próprios cristãos nela é a união com Cristo, a vida espiritual e o compromisso. Assim, os cristãos identificam-se com Cristo e põe em prática a sua missão na Igreja, através da vida de santidade, do compromisso e da oração.
A teologia pastoral deve analisar a missão da Igreja de acordo com a época em que se insere, tendo em conta as várias condicionantes: cultura, economia, tradição, localização… Portanto, esta análise vai desde as questões mais básicas às mais práticas.
A teologia (pastoral ou prática) da acção eclesial é tudo aquilo que a Igreja faz (catequese, a liturgia…) a partir dos sacramentos, através da acção de Cristo e do Espírito Santo. Só Eles divinizam a Igreja e a acção dos cristãos nela. Segundo João Paulo II, a teologia pastoral deve ser uma reflexão diária da identidade da Igreja na sua vida quotidiana através da força do Espírito. Pode ainda ser uma reflexão sobre a acção da Igreja como família que Deus quer formar com todos, na perspectiva de Bento XVI.
A igreja não se edifica sozinha, mas vai-se renovando através de Cristo e do Espírito Santo.

A teologia pastoral em relação com outras disciplinas
A teologia pastoral relaciona-se com outras disciplinas, nomeadamente a teologia fundamental, a teologia moral, a teologia espiritual e o direito canónico.
Vamos, apenas, apresentar a sua relação com duas: a teologia dogmática e a teologia espiritual.
A teologia pastoral relaciona-se com a dogmática na medida em que professam uma só verdade, a verdade salvífica e libertadora anunciada por Cristo. Logo, estas duas teologias não existem separadamente, mas uma na outra, porque uma verdade que não foi anunciada por Cristo não pode ser uma acção eclesial.
Teologia pastoral e a teologia espiritual são inseparáveis. A vida espiritual é uma aspiração à comunhão com toda a humanidade, não é algo individual. Ajuda o homem a tomar consciência da sua dignidade e do seu valor divino, por isso, tem necessariamente lugar no seio da Igreja.

O método da teologia pastoral. O discernimento eclesial
Para o desenvolvimento da teologia pastoral é necessário ter em conta vários aspectos: culturais, históricos, tradição da Igreja, entre outros. Esta teologia deve ocupar um posto de vanguarda.
 
Método da disciplina
Há quatro elementos fundamentais do método teológico pastoral:
  1. A teologia da acção;
  2. A acção da Igreja;
  3. Discernimento dos sinais do tempo;
  4. O diálogo com as ciências humanas.
Analisando os dois primeiros, podemos dizer que a teologia da acção só é importante na medida em que se relaciona com a acção da Igreja, a vida dos cristãos.
A acção da Igreja é a prática da teologia, por isso, teologia e acção não se devem separar. A acção dos cristãos é o fruto da sua consciência de “ser Igreja”.
Uma acção é “acção da Igreja” quando:
  1. Se trata de um exercício hierárquico (actos oficiais e institucionais da Igreja);
  2. Quando é uma acção de um “cristão em graça” – através da oração, por exemplo – ou seja, é uma acção da Igreja porque é praticada por um membro vivo do Corpo de Cristo.
Contudo, a acção eclesial pode e deve ser sempre melhorada, mas a prática não é sinónimo de uma vivência da verdade revelada. A teologia pastoral utiliza tanto o método dedutivo (de tais princípio deduz-se tal acção) como o indutivo (a situação histórica interpela a inteligência do crente para que saiba como melhora-la).
Em relação ao terceiro aspecto, o discernimento é um método através do qual a Igreja estuda a história (os sinais dos tempos) para exercer com eficácia a sua missão de salvação do mundo. Para tal, e de acordo com a Gaudium et Spes, deve ler e interpretar esses sinais à luz do Evangelho, sempre actual. É uma tarefa da própria Igreja e de todos os crentes (toda a comunidade cristã). Esta interpretação deve versar sobre a acção do Espírito Santo na Igreja e durante a história do mundo.
O quarto aspecto mostra-nos a importância da teologia pastoral em manter um diálogo com as ciências humanas, salientando o aspecto existencial. Neste diálogo, a teologia deve mostrar que só contando com Deus é que as acções das pessoas são valorizadas com êxito.
Ao reflectirmos sobre a acção da Igreja e da existência humana, estamos a tornar a teologia pastoral na disciplina teológica que é.

A reflexão sobre a acção humana é marcada por três aspectos:
  1. Análise e valorização da situação e do contexto em que se insere;
  2. Projecto como identificação de objectivos a cumprir para a acção pastoral;
  3. Programação, ou seja, verificação dos recursos necessários para e execução do projecto (pessoas, meios, matérias…).
Em cada uma destas fases há critérios racionais (ciências humanas) que se articulam com a fé. Estes critérios devem estar sempre presentes quando se pretende desenvolver um projecto pastoral. A Igreja pede para que a graça do Espírito ilumine e acompanhe todas as acções, para que o principal meio e fim seja sempre Deus (e para que os filhos nascidos pelo Baptismo expressem as suas obras de fé através do amor).
Resumindo, para que a missão do Verbo e do Espírito seja cumprida, temos de dar lugar à oração, à santidade: esta é uma base da vida cristã. Os planos pastorais são fruto do conhecimento eclesial que acontecem em períodos muito variáveis.

O discernimento eclesial: atitudes e dinâmica
O discernimento eclesial é a principal manifestação do método teológico-pastoral. A Igreja, os cristãos e a dinâmica devem ter em atenção certas atitudes que são fundamentais.
  1. Na Igreja, o discernimento verifica-se em atitudes fundamentais: a reflexão sobre a fé baseada no Evangelho, o serviço aos homens mais necessitados e a experiência que ela própria vai acumulando (atendendo aos sinais dos tempos).
  2. Nos cristãos o discernimento implica ser sensível ao Espírito Santo e deixar que Deus nos oriente através da Sagrada Escritura. Enquanto acto de fé, o discernimento deve ser uma construção do Corpo de Cristo que se faz tanto pessoalmente, como em comunidade, tendo sempre presente a ajuda do Espírito Santo.
  3. Assim o discernimento implica:
    • Disponibilidade e desprendimento de si próprio como busca da vontade divina;
    • Oração e conversão como resposta à Palavra de Deus;
    • Estudo e reflexão para interpretar os sinais dos tempos à luz da Sagrada Escritura;
    • Diálogo fraterno para valorizar os dons de todos;
    • Obediência filial aos Pastores e Bispos;
    • Fidelidade renovada e iniciativa na pastoral, no apostolado, na cultura e na sociedade.
    1. Na dinâmica ou modo de proceder do discernimento há várias variantes:
      • Apresentação do tema em questão;
      • Oração pessoal e em comunidade;
      • Estudo e reflexão pessoal;
      • Escuta das opiniões de todos e diálogo sobre as propostas;
      • Intervenções adequadas e relacionadas com o tema;
      • Exposição das conclusões;
      • Debate final;
      • Tomada de decisão. Esta última não pode ser através da maioria, mas sim de acordo com a realidade, o contexto, as necessidades da Igreja e o bem comum. A decisão pode ser tomada mais tarde. 

      Raul de Oliveira Fernandes