06/11/10

A ESPIRITUALIDADE DO CATEQUISTA E A COMUNIDADE CRISTÃ

A espiritualidade do Catequista

A espiritualidade cristã, em sentido lato, corresponde ou compreende a forma como um cristão manifesta e vive a sua relação com Deus. Mais importante do que perceber a forma como o cristão celebra ou tem práticas religiosas é compreender como vive. A espiritualidade não é extrínseca mas intrínseca e quando é exterior é manifestação ou consequência de uma adesão interior.

O catequista e a sua espiritualidade estão enquadrados na vocação geral cristã – na vocação ou no chamamento permanente ao acolhimento da salvação oferecida por Deus que se concretiza na vocação à santidade. No entanto, a espiritualidade do catequista tem que estar além da vocação geral de todos os cristãos.

A “Boa Nova há de ser proclamada, antes de mais, pelo testemunho. Suponhamos um cristão ou punhado de cristãos que, no seio da comunidade humana em que vivem, manifestam a sua capacidade de compreensão e de acolhimento, a sua comunhão de vida e de destino com os demais, a sua solidariedade nos esforços de todos para tudo aquilo que é nobre e bom. Assim, eles irradiam, de um modo absolutamente simples e espontâneo, a sua fé em valores que estão para além dos valores correntes, e a sua esperança em qualquer coisa que se não vê e que não se seria capaz sequer de imaginar. Por força deste testemunho sem palavras, estes cristãos fazem aflorar no coração daqueles que os vêem viver, perguntas indeclináveis: Por que é que eles são assim? Por que é que eles vivem daquela maneira? O que é, ou quem é, que os inspira? Por que é que eles estão connosco?” (EN nº 21).

O catequista ideal não existe, não nasce mas faz-se em cada dia da sua existência. O Catequista, como todo o ser humano, está a construir a sua identidade enquanto pessoa e enquanto catequista. 

O “cristão-catequista” (Luis Otero – Joan Brulles) e nesta definição compreendemos que o catequista tem que ser mais do que um cristão – quer dizer, pela sua missão o catequista tem que ter uma outra vivência espiritual. Podemos dizer que do catequista se exige uma profunda maturidade espiritual de onde parte um convicto anúncio de Jesus Cristo. De uma adesão clara sob o acolhimento permanente do Espírito Santo o catequista transforma-se num anunciador claro de Jesus Cristo. Quer dizer, quanto mais o catequista tiver o seu coração convertido a Jesus Cristo e aberto à acção do Espírito Santo mais a sua vida se torna clara e deixam de existir sombras entre aquilo que ensina e aquilo em que acredita ou que testemunha. Esta responsabilidade e exigência depositadas no catequista não são motivo de desânimo ou de angústia mas motivação para um permanente crescimento espiritual, para uma permanente compreensão da missão do catequista. Ser catequista não pode ser ‘porque tem que ser’ ou porque ‘não há mais ninguém’ mas porque chamados aceitamos o convite e tudo fazemos com intensidade para sermos bons catequistas.

A comunidade cristã

O catequista está inserido numa comunidade cristã e é mandatado por ela para fazer catequese. Jesus recebeu uma missão do Pai – anunciar a Boa Nova da Salvação – e Jesus deixou uma missão aos seus discípulos – anunciar a Boa Nova da Salvação - e nós somos herdeiros e actualizadores permanentes dessa missão que Jesus deixou aos seus discípulos, que deixou aos cristãos, àqueles que querem identificar a sua vida com as atitudes e os gestos de Jesus.
É na comunidade cristã que se vive a fé em Jesus Cristo. Porquê? Porque a Igreja (com os seus pecados e suas virtudes) é a depositária da missão de Jesus.
 “A Igreja nasce da acção evangelizadora de Jesus e dos doze. Ela é o fruto normal, querido, o mais imediato e o mais visível dessa evangelização […] Enviada e evangelizadora, a Igreja envia também ela própria evangelizadores. É ela que coloca em seus lábios a Palavra que salva, que lhes explica a mensagem de que ela mesma é depositária, que lhes confere o mandato que ela própria recebeu e que, enfim, os envia a pregar. E a pregar, não as suas próprias pessoas ou as suas ideias pessoais, mas sim um Evangelho do qual nem eles nem ela são senhores e proprietários absolutos, para dele disporem a seu bel-prazer, mas de que são os ministros para o transmitir com a máxima fidelidade” (EN nº 15).
A adesão ou o acto de fé é uma decisão livre e pessoal mas nunca individual ou intimista porque cada um de nós faz uma adesão de fé à fé transmitida de geração em geração pela Igreja. A Igreja nasce da missão de Jesus e é enviada por Ele e nós participamos deste anúncio e desta missão. Por isso, uma opção de fé implica uma adesão à comunidade que a transmite e que é sua depositária. O catequista está inserido numa comunidade, é enviado e apoiado pela comunidade, por isso actua em nome dela e não em nome pessoal. Assim, os catequistas são enviados pela comunidade a testemunhar a sua fé que é a fé da Igreja. Porque, em primeira instância, quem faz a catequese é a comunidade e é esta que delega essa missão nos catequistas.
“Evangelizar não é para quem quer que seja um acto individual e isolado, mas profundamente eclesial. Assim, quando o mais obscuro dos pregadores, dos catequistas ou dos pastores, no lugar mais remoto, prega o Evangelho, reúne a sua pequena comunidade, ou administra um sacramento, mesmo sozinho, ele perfaz um acto de Igreja e o seu gesto está certamente conexo, por relações institucionais, como também por vínculos invisíveis e por raízes recônditas da ordem da graça, à actividade evangelizadora de toda a Igreja. Isto pressupõe, porém, que ele age, não por uma missão pessoal que se atribuísse a si próprio, ou por uma inspiração pessoal, mas em união com a missão da Igreja e em nome da mesma” (EN nº 60).
Em síntese, os catequistas são escolhidos e enviados em nome da comunidade, em nome da Igreja a anunciar não a sua fé mas a fé da Igreja. O grande desafio do catequista é a fidelidade a Jesus Cristo e à Igreja.  

A comunidade e iniciação cristã

O catequista participa da missão dada por Jesus aos discípulos; o catequista comunica de forma actual o Evangelho, a Tradição viva da comunidade eclesial, a forma como a Igreja acredita, celebra e vive.
O catequista é uma testemunha da experiência comunitária da fé, para isso, tem que conhecer a fé da comunidade e partilhar essa mesma vivência. Só assim o catequista poderá iniciar na fé os seus catequizandos. O catequista não pode apresentar o que ‘devia ser’ ou algo que é ‘utópico’ mas tem que apresentar e promover uma realidade. Quer dizer, o catequista tem que se apresentar e apresentar a comunidade como modelo ou exemplo do que ensina ou melhor, transmite e não como uma realidade que deveria existir. Trata-se de iniciar na comunidade. E iniciar na comunidade ou fazer a iniciação cristã é fazer um cristão.
A iniciação cristã é o processo que facilita ou possibilita a conversão, a construção de uma identidade crente e que leva à renovação da comunidade. Quanto mais autênticos forem os cristãos mais autêntica será a comunidade. E a identidade crente vai construir-se quando é posta em causa e quando ao ser posta em causa somos capazes de fundamentar em que acreditamos e com base nisso reconstruímos a nossa identidade num crescimento permanente. Neste processo catequético de iniciação é fundamental entrar na linguagem e nos conceitos que identificam e que fazem parte da comunidade cristã e explicitá-los, tanto quanto possível.
Uma iniciação cristã bem-feita levará as crianças ou os adultos a saber e a viver de forma cristã, tendo presente os principais elementos que constituem a sua fé, as respectivas mediações e as atitudes a ter.
A igreja faz a catequese e a catequese faz a Igreja, é nesta dinâmica permanente que o catequista se enquadra e promove.

Pe. César Maciel
Encontro de Espiritualidade, 5 de Novembro de 2010 - Melgaço

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