12/11/10

FOCUS GROUP

Carla Galego e Alberto A. Gomes - Emancipação, ruptura e inovação: o “focus group” como instrumento de Investigação
Revista Lusófona de Educação, 2005, 5, 173-184


Reflectir sobre o “focus group” e a sua aplicabilidade na sociologia
    1. Aspectos históricos
    2. Aplicabilidade inicial
    3. Reflexão sobre a inserção nas metodologias
    4. Identificar se é uma técnica ou um método de investigação
    5. Sua operacionalização no quadro das ciências sociais.
   
    “Focus group” é uma estratégia de recolha de dados, eficiente quanto à qualidade e quantidade, apoiada em pressupostos antropológicos e de marketing, diríamos, da antiguidade até aos dias de hoje, dando-nos uma visão e uma dimensão vasta sobre o mesmo tema.

1- Aspectos históricos
    Robert King Merton foi o pai do “focus group” (1941) por ser o primeiro a aplicar esta forma de recolha de dados. Apesar de já em 1930 se começar desenvolver, só a partir da década de 80 é que se deu um maior desenvolvimento como estratégia de pesquisa por parte dos cientistas sociais.
    Um experiência feita num programa de rádio onde reuniram várias pessoas e lhes colocaram à frente botões às cores para accionarem quando achassem aspectos negativos ou positivos no programa. Merton, reuniu essas pessoas e questionou-as sobre os verdadeiros motivos que as levaram a responder de certa maneira em relação aos aspectos positivos ou negativos do programa em questão.
    Assim, o “focus group” é uma técnica qualitativa de recolha de dados. A sua finalidade inicial era ajudar a perceber até que ponto é que os indivíduos eram influenciados pelo grupo e vice-versa, tornando essa troca de opiniões e sentimentos em novos conhecimentos.
    Actualmente utiliza-se o “focus group” em quatro áreas distintas (Saumure, 2001):
    1. Pesquisa de mercado
    2. Investigação científica
    3.  Investigação non-profit
    4. Investigação-acção participante
    É utilizado por uma vasta área de investigadores, nomeadamente, cientistas sociais. O “focus group” permite alcançar objectivos que outras técnicas não conseguem aprofundar.
   
2- “Focus group”: método ou técnina
    Dado que o método é definido como caminho e processo racional, a técnica é a arte de caminhar minuciosamente, até chegar ao resultado final. Portanto, o “focus group” pode ser um método na medida em que pressupõe um conhecimento prévio que, através dos resultados obtidos, nos permite chegar ao conhecimento científico, assim como também pode ser considerado como técnica. Ou seja, considera-se o “focus group” como método e/ou como técnica. Pode, ainda, ser utilizado isoladamente ou com outras técnicas.
    O “focus group” pode ser uma acção não natural (inibe o grupo) e pode ser organizado (permitindo a espontaneidade) proporcionando, assim, reacções e visões diversas.
    Como método e/ou técnica, o “focus group” tem ampliado os seus objectivos, deixando a cargo do investigador a criatividade metodológica, tornando-a (à criatividade) num grande desafio para o próprio investigador.

3- Relação sujeito-objecto no processo de investigação científica
    O “focus group” permite ao sujeito-objecto auto-descobrir-se e emancipar-se durante o processo de investigação através das relações de reciprocidade, transformando as suas estruturas cognitivas. Permite, ainda, criar espaços de debate em torno de um assunto, construindo e reconstruindo posições de acção futura. Este instrumento abre uma grande porta aos cientistas e sociólogos de verem os seus trabalhos produzir efeitos práticos em termos de mudança social.

4- Como se constitui um focus group

    É indispensável para o “focus group” fazer uma selecção dos participantes na investigação e na constituição do(s) grupo(s) deve haver confiança entre os intervenientes e o moderador/investigador, bem como anonimato e confidencialidade. É, ainda, aconselhável que seja claro problema ou questão a ser investigado, sendo até possível a construção desse problema. O “focus group” deve ser constituído por pessoas com características comuns que formem um equilíbrio, como critério geral. Os indivíduos serão seleccionados de acordo com o problema a ser investigado, tendo como líder o moderador/investigador. Este (moderador/investigador) deve promover a interacção e participação de todos os elementos do grupo, proporcionando um clima favorável à exposição de ideias. As etapas do trabalho devem ser pensadas e planeadas cuidadosamente pelo investigador.
    Segundo Morgan (1997) e Suter (2004), o “focus group” deve ser composto por 6 a 12 elementos e não deve exceder os 5 grupos por investigação.

5- O Papel de moderador/investigador

    Como o nome indica, o moderador tem a função de moderar a interacção entre os membros do grupo e apresentar o trabalho a ser tratado. Lança questões e desafios ao grupo. Deve ter um conhecimento prévio de cada participante do grupo e da relação entre os mesmos, para melhor perceber e interpretar os dados recolhidos. O moderador/investigador, observando o comportamento de todo o grupo, possui informações privilegiadas para a descodificação, interpretação e análise dos dados.

6- Conjugação do “focus group” com outras alternativas e metodológicas
    Comparando o “focus group” com a observação participante, pode afirmar-se que é possível a sua conciliação. O primeiro, apesar de ter uma abordagem pouco natural, antecipa informações sobre o grupo que, com a observação participante seria mais demorado, visto que nesta o investigador demoraria mais tempo a integrar-se no grupo.
    Nas entrevistas individuais existe maior controlo da informação. Em contrapartida, o “focus group” tem acesso a muitas mais informações de muitos sujeitos.
    Assim, o “focus group”, é um método/técnica que pode ser usado simplesmente sozinho ou conjugado com outros métodos de investigação graças ao seu carácter exploratório.

7- Análise e interpretação dos dados
    São necessários alguns cuidados para interpretar os dados recolhidos. Os investigadores devem ser objectivos e aproveitar todos os dados possíveis fornecidos pelos participantes.
    Portanto, no “focus group” o moderador/investigador deve:
  • Participar na análise de todos os dados, uma vez que possui informações privilegiadas sobre o comportamento dos participantes;
  • Transcrever as conversas;
  • Elaborar um plano das conversas sobre as ideias, diferenças e opiniões;
  • Extrair das conversas tudo o que for relevante e tiver a ver com o tema a ser tratado;
  • Captar as ideias principais da análise tentando formar conclusões;
  • Elaborar um relatório com os resultados do “focus group” sobre as participações dos indivíduos, avaliando as suas interpretações.

8- Limites e possibilidades do focus group

  O “focus group”, como método/técnica tem as suas vantagens e limitações. É vantajoso na medida em que:
  • É de baixo custo
  • É de organização rápida
  • É rápido a recolha de dados
  • É flexível e pode ser conciliado com outras alternativas de investigação
  • Os resultados apresentam os motivos da opinião sobre um “produto” em análise que pode ser uma informação valiosa para desenvolver o que se pretende
  • Permite riqueza e flexibilidade na recolha de dados que raramente se consegue na aplicação de um instrumento individualmente, tornando o resultado obtido com a participação simultânea de todos os elementos do grupo mais rico do que se todos fossem entrevistados individualmente
  • Os intervenientes desenvolvem relacionamento recíproco, experimentando sentimentos, emancipando-se e sendo espontâneos nas suas respostas
Contudo existem vários riscos e desvantagens em relação a outros métodos de investigação entre eles:
  • A intervenção do moderador/investigador que, pode influenciar os resultados obtidos.
  • O “focus group” está sujeito a dispersões normais de grupos heterogéneos; os elementos do grupo podem sobrepor-se uns aos outros na discussão, enviesando-a; os comentários devem ser interpretados dentro desse contexto, e este pode, ainda, influenciar a natureza dos dados tornando-os mais difíceis de analisar por não se tratar de um ambiente natural. 
  • Tratando-se de um grupo não nos é possível saber se a opinião do grupo reflecte o comportamento individual
  • Moderador/investigador tem menor controlo sobre os dados gerados no caso de existirem questões predefinidas ou uma forte necessidade de comparar as entrevistas.
  • Difícil reunir os grupos e torna-se mais dispendioso quando são necessários vários encontros.
  • Não são resultados representativos
    Por isso, e segundo Morgan (1997), o moderador/investigador deve ser hábil, eficiente, rápido e bem treinado na recolha de informação dos participantes.

Raul Fernandes

09/11/10

Magusto em imagens




Nem a ameaça de chuva nos parou!!

06/11/10

A ESPIRITUALIDADE DO CATEQUISTA E A COMUNIDADE CRISTÃ

A espiritualidade do Catequista

A espiritualidade cristã, em sentido lato, corresponde ou compreende a forma como um cristão manifesta e vive a sua relação com Deus. Mais importante do que perceber a forma como o cristão celebra ou tem práticas religiosas é compreender como vive. A espiritualidade não é extrínseca mas intrínseca e quando é exterior é manifestação ou consequência de uma adesão interior.

O catequista e a sua espiritualidade estão enquadrados na vocação geral cristã – na vocação ou no chamamento permanente ao acolhimento da salvação oferecida por Deus que se concretiza na vocação à santidade. No entanto, a espiritualidade do catequista tem que estar além da vocação geral de todos os cristãos.

A “Boa Nova há de ser proclamada, antes de mais, pelo testemunho. Suponhamos um cristão ou punhado de cristãos que, no seio da comunidade humana em que vivem, manifestam a sua capacidade de compreensão e de acolhimento, a sua comunhão de vida e de destino com os demais, a sua solidariedade nos esforços de todos para tudo aquilo que é nobre e bom. Assim, eles irradiam, de um modo absolutamente simples e espontâneo, a sua fé em valores que estão para além dos valores correntes, e a sua esperança em qualquer coisa que se não vê e que não se seria capaz sequer de imaginar. Por força deste testemunho sem palavras, estes cristãos fazem aflorar no coração daqueles que os vêem viver, perguntas indeclináveis: Por que é que eles são assim? Por que é que eles vivem daquela maneira? O que é, ou quem é, que os inspira? Por que é que eles estão connosco?” (EN nº 21).

O catequista ideal não existe, não nasce mas faz-se em cada dia da sua existência. O Catequista, como todo o ser humano, está a construir a sua identidade enquanto pessoa e enquanto catequista. 

O “cristão-catequista” (Luis Otero – Joan Brulles) e nesta definição compreendemos que o catequista tem que ser mais do que um cristão – quer dizer, pela sua missão o catequista tem que ter uma outra vivência espiritual. Podemos dizer que do catequista se exige uma profunda maturidade espiritual de onde parte um convicto anúncio de Jesus Cristo. De uma adesão clara sob o acolhimento permanente do Espírito Santo o catequista transforma-se num anunciador claro de Jesus Cristo. Quer dizer, quanto mais o catequista tiver o seu coração convertido a Jesus Cristo e aberto à acção do Espírito Santo mais a sua vida se torna clara e deixam de existir sombras entre aquilo que ensina e aquilo em que acredita ou que testemunha. Esta responsabilidade e exigência depositadas no catequista não são motivo de desânimo ou de angústia mas motivação para um permanente crescimento espiritual, para uma permanente compreensão da missão do catequista. Ser catequista não pode ser ‘porque tem que ser’ ou porque ‘não há mais ninguém’ mas porque chamados aceitamos o convite e tudo fazemos com intensidade para sermos bons catequistas.

A comunidade cristã

O catequista está inserido numa comunidade cristã e é mandatado por ela para fazer catequese. Jesus recebeu uma missão do Pai – anunciar a Boa Nova da Salvação – e Jesus deixou uma missão aos seus discípulos – anunciar a Boa Nova da Salvação - e nós somos herdeiros e actualizadores permanentes dessa missão que Jesus deixou aos seus discípulos, que deixou aos cristãos, àqueles que querem identificar a sua vida com as atitudes e os gestos de Jesus.
É na comunidade cristã que se vive a fé em Jesus Cristo. Porquê? Porque a Igreja (com os seus pecados e suas virtudes) é a depositária da missão de Jesus.
 “A Igreja nasce da acção evangelizadora de Jesus e dos doze. Ela é o fruto normal, querido, o mais imediato e o mais visível dessa evangelização […] Enviada e evangelizadora, a Igreja envia também ela própria evangelizadores. É ela que coloca em seus lábios a Palavra que salva, que lhes explica a mensagem de que ela mesma é depositária, que lhes confere o mandato que ela própria recebeu e que, enfim, os envia a pregar. E a pregar, não as suas próprias pessoas ou as suas ideias pessoais, mas sim um Evangelho do qual nem eles nem ela são senhores e proprietários absolutos, para dele disporem a seu bel-prazer, mas de que são os ministros para o transmitir com a máxima fidelidade” (EN nº 15).
A adesão ou o acto de fé é uma decisão livre e pessoal mas nunca individual ou intimista porque cada um de nós faz uma adesão de fé à fé transmitida de geração em geração pela Igreja. A Igreja nasce da missão de Jesus e é enviada por Ele e nós participamos deste anúncio e desta missão. Por isso, uma opção de fé implica uma adesão à comunidade que a transmite e que é sua depositária. O catequista está inserido numa comunidade, é enviado e apoiado pela comunidade, por isso actua em nome dela e não em nome pessoal. Assim, os catequistas são enviados pela comunidade a testemunhar a sua fé que é a fé da Igreja. Porque, em primeira instância, quem faz a catequese é a comunidade e é esta que delega essa missão nos catequistas.
“Evangelizar não é para quem quer que seja um acto individual e isolado, mas profundamente eclesial. Assim, quando o mais obscuro dos pregadores, dos catequistas ou dos pastores, no lugar mais remoto, prega o Evangelho, reúne a sua pequena comunidade, ou administra um sacramento, mesmo sozinho, ele perfaz um acto de Igreja e o seu gesto está certamente conexo, por relações institucionais, como também por vínculos invisíveis e por raízes recônditas da ordem da graça, à actividade evangelizadora de toda a Igreja. Isto pressupõe, porém, que ele age, não por uma missão pessoal que se atribuísse a si próprio, ou por uma inspiração pessoal, mas em união com a missão da Igreja e em nome da mesma” (EN nº 60).
Em síntese, os catequistas são escolhidos e enviados em nome da comunidade, em nome da Igreja a anunciar não a sua fé mas a fé da Igreja. O grande desafio do catequista é a fidelidade a Jesus Cristo e à Igreja.  

A comunidade e iniciação cristã

O catequista participa da missão dada por Jesus aos discípulos; o catequista comunica de forma actual o Evangelho, a Tradição viva da comunidade eclesial, a forma como a Igreja acredita, celebra e vive.
O catequista é uma testemunha da experiência comunitária da fé, para isso, tem que conhecer a fé da comunidade e partilhar essa mesma vivência. Só assim o catequista poderá iniciar na fé os seus catequizandos. O catequista não pode apresentar o que ‘devia ser’ ou algo que é ‘utópico’ mas tem que apresentar e promover uma realidade. Quer dizer, o catequista tem que se apresentar e apresentar a comunidade como modelo ou exemplo do que ensina ou melhor, transmite e não como uma realidade que deveria existir. Trata-se de iniciar na comunidade. E iniciar na comunidade ou fazer a iniciação cristã é fazer um cristão.
A iniciação cristã é o processo que facilita ou possibilita a conversão, a construção de uma identidade crente e que leva à renovação da comunidade. Quanto mais autênticos forem os cristãos mais autêntica será a comunidade. E a identidade crente vai construir-se quando é posta em causa e quando ao ser posta em causa somos capazes de fundamentar em que acreditamos e com base nisso reconstruímos a nossa identidade num crescimento permanente. Neste processo catequético de iniciação é fundamental entrar na linguagem e nos conceitos que identificam e que fazem parte da comunidade cristã e explicitá-los, tanto quanto possível.
Uma iniciação cristã bem-feita levará as crianças ou os adultos a saber e a viver de forma cristã, tendo presente os principais elementos que constituem a sua fé, as respectivas mediações e as atitudes a ter.
A igreja faz a catequese e a catequese faz a Igreja, é nesta dinâmica permanente que o catequista se enquadra e promove.

Pe. César Maciel
Encontro de Espiritualidade, 5 de Novembro de 2010 - Melgaço

05/11/10

MAGUSTO: 7 DE NOVEMBRO

Olá malta!

Recordo que a data do magusto foi alterada para o próximo Domingo, dia 7 de Novembro. Apareçam! :)